Considero que tive a sorte de ter iniciado a minha actividade de designer industrial numa empresa de Branding – criação e desenvolvimento de marcas, não como designer gráfico mas sim industrial. Pode parecer estranho, mas verdade é que foi nessa grande empresa onde aprendi a dar valor ao design industrial e, acima de tudo, a entender o seu valor dentro de uma estratégia de marca. Acabei por deixar a empresa e tentar novos voos, frustrado pelo pouco trabalho de design industrial feito em Portugal, pelas poucas marcas na área do produto. Esta introdução serve para colocar a minha opinião em perspectiva.
O tema do declínio das marcas, da sua perca de peso e de valor no mercado como elemento distintivo capaz de gerar o tão desejado “premium”, está bem documentado. O fenómeno passa pelos movimentos sociais anti marca / anti logo (o elemento simbólico da marca), ardilosamente defendido no livro da Naomi Klein “NO LOGO”. Passa também pelos efeitos excessivos da globalização, pelo crescente conhecimento e inteligência do consumidor, pelo seu posicionamento egoísta e pouco tolerante. Mas acima de tudo, pelo entendimento de algo básico e que muito me agrada; que quando não há produto e serviço de qualidade, não há marca que aguente.
Um artigo recentemente publicado na Wired (12.11) fala deste declínio das marcas, citando exemplos como o da Nokia, uma empresa com um valor de marca na ordem dos $30 bilhões e que simplesmente porque se recusou a produzir telefones tipo “clamshell” (tampa tipo ostra) perdeu $6 bilhões de valor de marca e teve que entrar na guerra dos “clamshell” à força. Fala de outros exemplos menos conhecidos do público Português mas igualmente interessantes. Utiliza um termo interessante para descrever o consumidor actual, chama-lhes monogamistas em serie, capazes de se relacionarem com um determinado produto como se fosse a melhor coisa do mundo, até aparecer outro mais sexy no horizonte. Menciona o Kevin Roberts da Saatchi & Saatchi , responsável pela teoria fantástica das “lovemarks”, afirmando que “as marcas perderam o seu poder, estão mortas. Agora o consumidor é quem manda, as marcas não têm sítio para se esconder”.
É um facto que este assunto me agrada como designer de produto e serviço, mas acima de tudo, é um assunto que devia agradar aos empresários Portugueses. Fala-se sobre a necessidade de Portugal ter marcas conhecidas, de Portugal se assumir como uma marca. Mas reconhece-se a dificuldade que temos em colocar essas marcas no coração dos consumidores, do investimento necessário e do tempo para o seu retorno. Em vez disso, falemos de produto e de serviço de qualidade, não somente a qualidade certificada, mas a qualidade visível, sentida, reconhecida. Mais do que falar, invistam em produtos de qualidade, na inovação e no rigor.
Basta olhar em redor e ver as marcas que o são porque os seus produtos assumem de uma forma continuada o seu papel de veículo de ligação ao consumidor. Tanto se fala agora do iPod da Apple e do facto de ele ter dado início a um novo segmento de negócio. É um facto que por detrás do produto existe o serviço iTunes, uma plataforma de gestão de oferta musical personalizada, plataforma esta facilmente copiada, mas o produto não. Quem tem ou já teve na mão um iPod não precisa que lhe expliquem o valor do produto e do design do mesmo neste negócio.
Caros empresários, dediquem-se à tarefa de desenvolver produtos e serviços inovadores e com design ganhador, com afinco e de uma forma continuada, a marca pode bem aparecer quando menos a esperam.
“...The aristocracy of brand is dead. Long live the meritocracy of product”.
Jornal de Leiria / Economia / 3 de Fevereiro de 2005
Monday, May 14, 2007
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