Monday, May 14, 2007

O design de "o quê"

Afirmei que era preciso esquecer o design. Acima de tudo porque temos que deixar de ser entendidos como designers para podermos participar nos projectos muito mais cedo, na fase do design de "o quê", mais concretamente do briefing.

Os briefings definem objectivos derivados de estudos de mercado, restrições técnicas e dados similares e são feitos antes de o designer estar envolvido. Intervindo na definição do problema e na identificação dos critérios de efectividade da solução, o designer participa no desenho do jogo e das suas regras, para poder desenhar as peças do jogo de forma adequada.

Mesmo depois de "o quê" estar definido, existe um manancial de oportunidades para a contribuição do design de uma forma criativa e inovadora, e estas também podem resultar em inovações que propiciem a melhoria de vida dos utilizadores e o sucesso comercial dos produtores. Mas, se as premissas estiverem erradas, nem o mais habilidoso designer evitará resultados onerosos para os produtores, utilizadores, sociedade em geral e, em última análise, para a própria reputação do design.

Certo é que se perde demasiado tempo à procura de tarefas de design pré-definidas em detrimento da identificação das necessidades de uso não preenchidas. Tendem a deixar este papel para os especialistas em pesquisas de mercado, chegando a evitar a utilização deste tipo de dados por os considerarem limitadores da sua criatividade.

A mudança terá que vir de dois lados. Da gestão que deve assumir o design como uma parte integrante do processo de inovação, como um diagrama de Venn onde as fronteiras se sobrepõem de forma criativa, resultando numa nova dimensão de conhecimento e do papel de cada disciplina. Da parte do designer, espera-se que aprenda a avaliar, observar e criar empatia, analisar, criar hipóteses e cenários, testar, avaliar de novo, repetir e criar estratégias abrangentes ao nível do sistema e da plataforma, tudo isto, como parte de uma rotina de design, de uma forma consistente. Quais os benefícios do design de "o quê"? Este paradigma de acção traz benefícios ao designer, ao pesquisador e analista, ao produtor e, claro, ao utilizador. Desenhar "o quê" eleva o design como profissão, enriquece o papel do design e, acima de tudo, torna o designer um elemento responsável do processo de inovação, da definição do problema e do desenvolvimento da solução. Torna-o implicitamente co-responsável pelo sucesso e insucesso do processo em que está envolvido, é a melhor maneira de garantir os resultados de uma aplicação efectiva do design.

As empresas de design mais bem sucedidas, as IDEO, DESIGN CONTINUUM e, permitam-me a desfaçatez, a CDN International onde laboro, trabalham de acordo com este modelo com pequenas variações. Existem designers, e engenheiros, e antropólogos e sociólogos, e gestores; existem departamentos disciplinarmente definidos, onde cada profissional tem que ser muito competente ao nível da sua disponibilidade. E depois existem as metodologias integradoras, as que permitem a um designer fazer parte de uma equipa que analisa um problema, identifica uma oportunidade, desenvolve um cenário de acção. Funcionam como designers, usando as suas competências para o sucesso do projecto.

É fundamental entender o modelo onde o design pode ser efectivo para podermos partilhar a mesma linguagem. Agora sim, poderemos falar de resultados.

Jornal de Leiria / Economia / -- de --- de 2004

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