Tenho, desde há muito tempo, dito isto repetidamente sobre o design - esqueçam o Design! Lembro-me daquilo que para mim significava a melhor maneira de colocar este assunto: "O design é demasiado importante para ser deixado aos designers" dizia Peter Gorb, o 'guru' do "design management" que conseguiu nos anos 70 colocar esta disciplina no seio da afamada London Business School. Peter entretanto mudou esta frase, apercebeu-se que ela era dúbia e substituiu-a por outra ainda mais contundente : "O design não é criativo e NUNCA pode ser deixado aos designers".
Estas frases tinham como suporte a descoberta por parte de uma pessoa não treinada como designer que aqueles que tinham sido treinados como tal tinham um conjunto de habilidades que os tornavam melhores candidatos a trabalhos de gestão e de execução, e que era mais fácil ensinar a um designer temas relacionados com gestão do que princípios de design a gestores. Isto foi o que Peter aprendeu em 20 anos de London Business School. Outra coisa implícita no seu pensamento é que o design é demasiado importante para ser deixado somente nas mãos dos designers e que, aquilo que muitas vezes serve de limitação e de entrave à entrada de outras pessoas na área do design - a criatividade, não devia limitar ninguém porque o design não é criativo. O design, como profissão, não é criativo. O resultado pode ser mais ou menos criativo.
Quando digo "Esqueçam o design!", digo-o com a segurança que hoje não é possível fazer nada - desde colocar a mesa ou recolher o lixo, a pensar uma cidade ou subir uma montanha - sem princípios de design. E o design, aplicado de uma forma profissional, permite a qualquer uma destas actividades se diferenciar e valorizar das suas congéneres. Por isso digo que esqueçam o design, e concentrem-se nos resultados que se pretendem com a aplicação do design. Do design e não só, e este é o calcanhar de Aquiles do design (não do Brad Pitt...).
O design é uma profissão como tal, nova. Sofreu e sofre como outras profissões, de problemas de autonomia e de afirmação e nem sempre tem escolhido a melhor maneira para se evidenciar. O paradigma actual é o da matemática e as disciplinas que maior autonomia mostram são as que utilizam os princípios deste paradigma para se afirmar. O design decidiu enjeitar o seu lado artístico por causa desta necessidade, mas não quis abdicar dos métodos "caixa negra" típicos da arte - a informação entra de um lado e sai pelo outro sem se saber bem como. Isto resultou numa situação onde o design não é respeitado pela arte nem pela matemática, e sem melhores amigos, o design partiu para o segundo erro; o de tentar afirmar que podia fazer tudo, em qualquer área e sem ajudas. O lançamento de um novo produto, ou de um serviço - estas fronteiras não fazem mais sentido num mundo onde um e outro se combinam para benefício mutuo, implica a inclusão de um sem número de especialistas e de conhecimentos, e o designer é somente mais um profissional na equipa. Se por um lado continuam a tentar desenvolver mecanismos matemáticos e financeiros para se justificar o valor do design - veja-se o último relatório do Design Council sobre o valor das empresas que usam o design de acordo com a sua performance em bolsa (1), o mais fácil de se discutir é o resultado sem design ou com mau design. E isto porque as decisões de design acabam sendo tomadas, por designers e não designers.
Hoje e cada vez mais, vivemos numa economia global - onde os mesmos "skills " de design estão a ser ensinados em universidades espalhadas pelo mundo fora - extremamente competitivas e especializadas. O designer tem que aprender a ser um bom designer dentro de contextos empresariais que se querem fortes de um ponto de vista estratégico, multi disciplinares e orientados para a efectividade. Neste contexto, o designer com o seu pensamento estruturado, com a sua capacidade de abstracção e de construção de uma solução tabelada, com o seu talento para comunicar soluções / contextos e com a sua habilidade de interface de diferentes linguagens e valores, torna-se facilmente num elemento indispensável a qualquer equipa bem sucedida em qualquer parte do mundo. Simplesmente, terão que esquecer o design!. Num próximo artigo, falarei sobre alguns resultados da aplicação efectiva do design. (1)
http://www.designcouncil.org.uk/webdav/servlet/XRM?Page/@id=6049&Session/@id=D_Xj2gu1dCe6ai7tcoEMa5&Document/@id=6923
Jornal de Leiria / Economia / 17 de Junho de 2004
Monday, May 14, 2007
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