Monday, May 14, 2007

Gazelas (*) e estatísticas

Hoje vou falar de design e de...números.

A revista Business Week e a Belga Europe’s Entrepreneurs for Growth identificaram as 500 pequenas e médias empresas Europeias responsáveis pelo crescimento Europeu e pela criação do emprego. Enquanto as grandes empresas estão a deslocalizar a produção para a Ásia, estas pequenas e médias empresas são responsáveis por 70% dos empregos privados na Europa. Nas primeiras 100, existem 21 empresas com menos de 500 trabalhadores, a mais pequena tem 120 e encontra-se na posição 87.

Não, este não é mais um estudo onde Portugal fica lá no fundo; fazemos parte dos 10 países a levar a cabo mais reformas e temos 5 empresas no lote das 500, contra 12 de Espanha. Isto apesar das deles estarem mais acima na escala - começam na posição 21 e a primeira Portuguesa na 123. Das 5 empresas Portuguesas, 3 são da área das TI e 2 da comunicação e electrónica, contra somente 4 /12 empresas Espanholas, contando eles com empresas relacionadas com serviços à industria, logística e bens de consumo. No lote das primeiras 10, somente 1 na área das TI, equilibradas quanto a produto e serviço, uma grande parte delas em áreas B2B. Não é de estranhar que uma grande parte delas esteja ligada directa ou indirectamente a grandes marcas (como fornecedores preferenciais) ou a grupos de distribuição. Uma quantidade razoável em bens de consumo na área da alimentação. A maior quantidade das empresas encontra-se no sector dos bens para a indústria.

Um outro assunto envolvendo números. Na Holanda, o equivalente do INE, juntamente com uma organização responsável pela investigação científica aplicada, comissionados por uma fundação privada e pelo ministério da educação local, publicaram resultados de um estudo sobre o valor do design na economia Holandesa. São 46.000 designers, contribuindo com 2.6 biliões de Euros para a economia local – 0,7% do PIB local, 72% dos quais na área dos serviços, 1 em cada 5 na indústria e 7% em organizações não lucrativas. Em termos de emprego, o sector de design tem tanto peso como o sector dos seguros e pensões. No que diz respeito ao seu valor no PIB, tem tanto peso como o sector dos transportes aéreos, maior peso que o sector do petróleo. 58% dos inquiridos revelou que o design tem um papel relevante na inovação, isto nas empresas que combinam a inovação tecnológica com inovação no design.

Resta-me fazer a seguinte correlação. Nos primeiros 100 lugares da contagem acima mencionada, existem 5 empresas Holandesas, uma delas ocupando logo o segundo lugar, somente uma delas na área da comunicação e electrónica. Na lista das 500, 23 empresas Holandesas contra 12 de Espanha. Espanha tem 3 empresas nas primeiras 100, nenhuma delas na área das TI. Não tenho nada contra as empresa de TI, mas é perigoso fazer depender a nossa maneira de estar na Europa somente neste tipo de empresas, porque a concorrência da Ásia e particularmente da Índia é alta, porque acabam quase sempre por ser engolidas pelas grandes.

Se acham que estou a forçar a relação entre estes dois lotes de dados estatísticos é porque acho que existe uma relação directa entre o uso do design e a estratégia de desenvolvimento das empresas e do país. Este estudo valida igualmente a estratégia de parafusos com rosca ao contrário defendida no meu último artigo.

Ahh, termino por confidenciar que na CDN trabalho com 3 das 12 empresas listadas em Espanha e...nenhuma das Portuguesas.

(*) David Birch, um economista Americano, conseguiu nos anos 80 desmistificar a importância das grandes empresas como motores da economia, apelidando as pequenas e médias empresas de gazelas.

Jornal de Leiria / Economia / 11 de Novembro de 2004

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