Monday, January 7, 2008

O tamanho importa... e não devia importar.

Não, não vou falar disso!

Estou a fazer um projecto para um cliente, e depois de um esforço considerável em compactar o produto nos limites da funcionalidade e ergonomia, chegamos a um tamanho que nos assegura tudo o que pretendemos. Passamos para a discussão da embalagem e o cliente, conhecedor profundo do seu mercado, indica-nos que temos que desenhar uma embalagem cerca de 30% maior que o produto, enchendo a embalagem com “algo”. Isto porque o cliente tem por experiência própria que a embalagem na prateleira necessita de ter um determinado impacto face à concorrência, caso contrario o consumidor não entende que o produto custe o mesmo (ou mais...) que a concorrência.

Não é a primeira vez que o assunto do tamanho aparente vem como tópico para cima da mesa. Já em tempos tive um outro projecto onde se discutia a robustez aparente, o facto de que um produto não precisa de ser robusto, precisa de parece-lo. No inicio da minha carreira, num projecto de ATM’s, fomos confrontados com cofres que apresentavam uma espessura 50% inferior com atributos superiores aos outros, mas o cliente impediu a evolução porque as pessoas do meio associavam espessura à segurança, e pronto.

Como designer industrial focado no utilizador, entender as percepções de qualidade, robustez, performance, etc. é uma parte importante da minha actividade. Como designer industrial interessado em diferenciar o produto do meu cliente do da sua concorrência, tenho que investigar processos de o fazer de forma peremptória e de preferência assegurando propriedade intelectual ao meu cliente. Mas como designer industrial responsável pela sustentabilidade das soluções com as quais estou envolvido, depois de um exercício sério de “more is less”, de uso adequado de materiais, de desenho de um sistema o mais próximo possível do “carbono 0”, fazer uma embalagem grande e enche-la com “algo” perece-me, no mínimo, questionável. No entanto, estou consciente da experiência do meu cliente e da necessidade do seu produto concorrer na prateleira sem recorrer a explicações ou informações adicionais.

Como fazemos? Quem pode e deve educar as pessoas a aceitar que os recursos devem ser poupados, que uma embalagem grande e colorida, com imagens a cores e filtros que nunca mais se degradam não implica necessariamente um produto melhor. Se por um lado o consumidor não gosta de abrir uma embalagem vazia, com um produto arrumadinho lá no fundo debaixo de uma montanha de lixo, não consegue desligar-se dos seus hábitos e percepções, não tem mecanismos que o ensinem e recordem como consumir adequadamente, no momento da escolha. A escolha acertada, para todos os envolvidos, obriga a compromissos, e não é isenta de riscos. Estaremos todos conscientes disso?

Jornal de Leiria, Caderno Economia Janeiro 2008

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