Com o título “Portugueses pouco fiéis às marcas” o Expresso publicou alguns dados sobre hábitos de consumo de 31 países. Através dos valores apresentados, sugerem-se conclusões como o grau de pessimismo nacional, as preocupações mais importantes para o futuro, o nível de fidelização do consumidor às marcas.
Quem quiser relacionar estes dados com qualquer coisa que esteja bem ou mal no país, faça o favor. Eu escolho defender a tese que o design industrial é um elemento crucial no valor do produto e das marcas, e que isso se reflecte na competitividade nacional, nas aspirações e no bem estar dos Portugueses.
Para isto até avanço com alguns dados do meu lado.
. 83% dos designers industriais formados nos últimos 15 anos estão numa destas três profissões; ensino, designers 3D (espaços, stands, ponto de venda,...), outros (atendimento, desenho técnico, trabalho comercial, etc...). Dos que praticam design industrial, somente 2% acha que está a fazer aquilo que gostaria, 30% assumem-se como designer / produtor / comerciante, e 68% faz um pouco de tudo para poder fazer um projecto de design industrial de vez em quando.
. Das 3.563 empresas que dizem que fazem design industrial, 65% não tem um designer industrial na sua equipa, contratam quando necessário à tarefa / projecto. O preço médio do design industrial como tarefeiro é de 10€/hora. 72% dos designers industriais tem histórias para contar de acordos quebrados, contas não pagas ou pagas pela metade.
. Os projectos mais requeridos aos designers industriais são (industria) “pegue neste produto e faça algo igual ou parecido, mas mais barato” ou (agencias), “faça um projecto com imagens fantásticas; não se preocupe se pode ser produzido, é para convencer o cliente e depois logo se vê”;
. Uma das principais actividades dos designers industriais é ir a concursos, mas em Portugal são poucos e mal organizados (objectivos pouco claros, critérios mal definidos, jurados sem competência, regras de jogo leoninas, compensações ridículas,...).
. Por fim, dos 1.300 designers formados nos últimos dois anos, 92% sonha com ir trabalhar para o estrangeiro, 68% já enviou currículos e portfolio para várias empresas, 33% já foi a entrevistas a pagar do bolso deles e 15% dos mais talentosos arranjaram emprego no estrangeiro. Destes, 85% está contente e não quer regressar a Portugal tão cedo.
Estes dados são falsos, correspondem à minha percepção da realidade. Pena não haver uma instituição nem associação que se dedique a avaliar o estado do design industrial em Portugal e que tire dai as conclusões devidas. Quer do ponto de vista da educação, quer do emprego dos designers industriais, quer do potencial perdido na industria e nas marcas nacionais, quer do impacto do design industrial no bem estar e na confiança dos Portugueses.
Jornal de Leiria, Caderno Economia Dezembro 2007
No comments:
Post a Comment