Tuesday, June 12, 2007

Um código deontológico de contratação.

No passado dia 4 de Junho decorreu o primeiro encontro de empresas de design em Portugal, com o objectivo de discutir as "práticas de trabalho nocivas que se instalaram no mercado" – leiam-se concursos. Estiveram representadas mais de 120 empresas das 138 inscritas, espera-se que para o ano tenham subscrito um acordo deontológico.

Basicamente, as empresas de design encabeçadas por quatro mais indignadas, querem regrar a existência de concursos pois neste momento o mercado funciona da seguinte forma; qualquer empresa, de qualquer dimensão, para qualquer projecto e de qualquer dimensão, convoca um concurso de design ou de “ideias”, “convida” um conjunto de empresas de design, não dando a conhecer quem convida e podendo com isso convidar empresas que não jogam no mesmo tabuleiro. Coloca um desafio, na maioria das vezes mal colocado, com um prazo limitado para a sua execução (quanto menos tempo, melhor...), não paga aos “convidados” mas promete um prémio na maioria das vezes no limiar do insulto. Não esclarece quais os critérios de selecção, não tem designers no júri (num concurso de design...) e no final, como se não bastasse, tem o direito de achar que não houve “participações à altura”, anula o concurso e não atribui prémios. Isto sem mencionar as que abrem o dito concurso para justificar decisões já tomadas.

Não sou muito de me lamuriar, e sinto-me velho porque já fui a muitos eventos de designers a lamuriarem-se. O mercado é o que é, e com a quantidade de designers a saírem das escolas todos os anos sem rumo e sem formação adequada, “dumping” e canibalização de preços é um dado adquirido. Como sempre, somos parte do problema e da solução, e no final se as empresas dissessem simplesmente “NÃO”, o assunto resolvia-se. Ou não.

Sejamos lúcidos, cartel e lóbi existe, em todos os mercados e sectores. O design como profissão é muito recente e como grupo profissional somos pouco maduros, só este ano podemos assumir o termo designer para efeitos de IRS, temos um Centro Português de Design que não pode fazer nada porque está a pagar as dívidas das direcções anteriores, duas associações a fazer uma trabalho de metade de uma, e nem uma Ordem conseguimos ter!. Uma coisa é certa, temos que fazer algo. Só não sei o quê porque não acredito que isto se resolva com acordos deontológicos.
No final, se as empresas acharem que ganham algo fazendo este concursos, que muitas ideias é bom independentemente da qualidade, que quanto menos se disser melhor, que não é preciso pagar por uma coisa que se pode obter grátis ou barato, quem precisa de um código deontológico são as empresas, não os designers!

Jornal de Leiria, Caderno Economia Junho 2007

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