Monday, June 2, 2008

Bob Geldof para Presidente da UE!

Vou fazer algo que não costumo fazer habitualmente; misturar política com design.

Não porque pense que o design e a política não se misturam, muito pelo contrário. Mas porque eu pessoalmente não lido bem com o tipo de política que nos envolve, sem visão e promiscua. Os melhores políticos saltam fora por se sentirem maniatados, outros ficam porque sentem que fora da política ainda é mais difícil provocar mudanças. Discutível nos dias de hoje.

O design precisa da política, de uma política de design de vistas largas, com pés na terra. Quando fiz o meu mestrado em 1993 dediquei-o a condições para o crescimento do design em pequenos países como Portugal, quando no resto de países com oura experiência de design estavam a fechar instalações e a tentar chegar aonde era preciso de outra forma, estava o Centro Português de Design a inaugurar as suas instalações. Este mesmo CPD 15 anos depois tem as instalações á venda, um passivo difícil de saldar, uma situação de gestão impossível, trabalho feito que pode até corresponder ao melhor que souberam fazer, mas muito aquém do que devia ter sido feito. O design continua a não estar na agenda dos empresários, temos agora uma grande quantidade deles que não toca no design e que não quer trabalhar com o CPD.

Algo funciona mal quando não conseguimos, com sinceridade e com sentido de justiça, criticar o que não está mal e assumi-lo. Sou parte do problema e da solução e, estando envolvido com o CPD todos estes anos, e tendo sido sempre honesto em relação ao que pensava, talvez não tivesse sido o suficiente. Hoje continuo envolvido com o CPD, porque acredito na necessidade de um CPD, este ou outro com o mesmo propósito. Hoje também estou evolvido com o IAPMEI, que também está interessado no design como ferramenta de valor para as PME’s, mas a desarticulação entre todas estas entidades interessadas no bem estar do design denota a tal falta de uma política de design séria e eficaz.

Em Barcelona, a cidade que tem um marketing que suplanta a realidade, convida empresas mundiais com departamentos de design a implantarem-se na cidade, oferecendo várias benesses implícitas e explicitas, reconhecendo a necessidade da presença destas empresas para formar um “hub” de design mundial.

Há duas semanas fui a Londres, a uma conferência organizada pelo NESTA, a entidade nomeada pelo Design Council para incrementar a presença do design e da inovação nas PME’s Inglesas. Um dia cheio, com muita interacção, muita intervenção, muita participação. Uma das pessoas que mais me motivaram não é um designer, ou é o maior designer transformacional dos tempos modernos, um homem que na semana anterior tinha escandalizado a nossa sociedade dos grandes investidores ao afirmar categoricamente que Angola era gerido por criminosos. Todos, mesmo eles, sabem o que se passa em Angola. Pessoalmente acho que Portugal está envolvido numa segunda colonização de Angola bem mais pecaminosa e recriminável que a primeira, algo que dentro de 20 anos nos fará olhar para trás com alguma vergonha, mas isso são outras políticas. O Bob Geldof foi convidado pelos organizadores da conferencia para falar de inovação, e de inovação falou com autoridade. Inovação social, cultural, industrial, tecnológica, pessoal. De facto, quando se tem o estatuto de “outsider” e de artista de rock, podemos dizer o que nos vier à cabeça. Mas não deixei de pensar que este homem, artista como o Reagan mas senhor de uma arte diferente, não deixa de se assumir como um novo tipo de político, um não político, não conformista e, acima de tudo, fazedor de coisas, accionista de mudanças. Eu votava nele para a presidência da UE!
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Barcelona hosts the annual meeting of the Procter & Gamble Company’s Hair Care designers

30/04/2008
Mies van der Rohe

The Mies van der Rohe Pavilion was the scene for the annual meeting of the design team at the multinational Procter and Gamble Company's Hair Care division. The US giant's Hair Care business unit owns such brands as Pantene, Wella and Head & Shoulders, amongst others.

The meeting was attended by Ricard Frigola, Head of Economic Promotion at Barcelona City Council, and Pau Herrera, President of the BCD Executive Committee, whose address highlighted the importance of this type of event for the city. "That Procter & Gamble chose Barcelona as the venue for their meeting further confirms our conviction that design should occupy a key position in ensuring our city's economic growth. Events like this one help to make Barcelona a focus of attraction for designers and creatives".

The meeting formed part of the programme to welcome creative and design teams that BCD coordinates with a view to attracting and promoting Barcelona as the place for as many businesses as possible to establish their design facilities. Along this line of activity, BCD has also helped to persuade such companies as Renault, Volvo, Lego and Alstom to open offices in Barcelona and its area of influence.

Tuesday, May 13, 2008

Good Design! or not....

Com os cumprimentos da Joana Pina Pereira.

Os casos da gestão de design

Estive em Paris para a 12ª conferencia internacional de design Management organizada pelo DMI, a autoridade mundial no tema. Em cada país organizador há sempre uma tendência para incorporar casos de estudo locais, para que o evento não seja demasiado Americano, algo desejável e compreensível. E desta vez não fugiu à excepção, com as presenças da Fauchon, Renault, Faurecia, Legrand e outros. Mas também ouve uma presença hispânica, a Roca; por sinal a melhor apresentação.

Houve um pouco de tudo e aproveito para deixar um pequeníssimo resumo:

Fauchon – marca de “fast food” de luxo muito antiga, esteve à beira da falência há dois anos, com a entrada de um novo investidor renovou-se totalmente. O mais impressionante; como uma equipa de 4 pessoas pode fazer tanto em tão pouco tempo. O maior desafio: como escalar um negócio de comida com os desafios da produção local e logística.

Kone – Marca de elevadores Finlandesa, um produto pouco “sexy” e muito “regrado”, a responsável de design mostrou como se pode inovar com design transformando o elevador num interface cultural

Renault – O Patrick Le Quément é reconhecido como um dos pioneiros a dar a volta ao design no sector automóvel, assumindo hoje uma posição de destaque na empresa. No entanto ficou visível que a revolução que a Renault fez no tempo do primeiro Twingo não é a mesma que demonstra o novo Twingo, e ficamos a pensar se é do sector, da parceria com a Nissan ou da Renault precisar de um novo director de design

Karo – Uma empresa Canadiana de Branding a mostrar como veicular imagens e sentimentos fortes com a marca

Marc Giget – Um dos mais conceituados cientistas e teóricos da Inovação, uma apresentação muito interessante sobre a origem e o futuro da inovação, penalizada por ter sido feita num “bad english” típico dos Franceses

Faurecia – Uma apresentação interessante de como as empresas “Tier 1” da industria automóvel se acomodaram para responderem com inovação e design aos compradores das marcas. Já tinha visto uma apresentação similar da Johnson Controls e são casos interessantes de incorporação de design e inovação em negócios outrora B2B

Roca – Uma excelente apresentação de alguém recente na empresa, alguém conhecedor do valor do design e da inovação, alguém com capacidade operacional para dar a volta a uma empresa de um tamanho considerável mesmo ao nível europeu.

Clive Grinyer – O Clive influenciou-me há 15 anos quando foi tutor externo da minha tese de mestrado, disse-me que o meu trabalho não estava ao nível que ele esperava. Desta vez voltou a influenciar-me com uma apresentação sobre o design silencioso, sobre o facto de sermos demasiado silenciosos e esperarmos sempre para sermos convidados, sobre o facto de sermos pouco críticos em relação ao nosso próprio trabalho. Vou num outro artigo dedicar-me exclusivamente a esta apresentação que deu que pensar.

Microsoft – Quem disse que a Microsoft não tem design? Claro que tem, mas o design é parte do problema e da solução e o Surya Vanka teve a honestidade de mostrar as chalaças que circulam no mercado sobre o design extra detalhado e hiper confuso da Microsoft.

Legrand – O meu amigo Pierre Yves mostrou de forma clara como se pode aumentar as vendas de um produto, contornando um preconceito complexo – quem manda são os instaladores, questionando um mito muito antigo – só se vende o branco, com design e inovação que começou pelo ponto de venda. Dados e números impressionantes sobre o valor real do design.

Houve sessões paralelas, algumas delas bem interessantes e, houve uma sinopse de “papers” apresentados na conferencia de educação de design management que tinha tido lugar dois dias antes. Nessa conferencia apresentei um “paper” sobre a experiência de educação de design a gestores na Universidade Católica / FCEE. Um conterrâneo, o Carlos Oliveira Santos, apresentou o caso da Renova como exemplo de inovação.

Consegui – oficiosamente, a organização desta conferência para Lisboa em 2010. Uma batalha ganha depois de 3 anos de insistência e de comprovação que Lisboa tem condições de atracção e de organização para o fazer, mas agora tenho um outro problema; que empresas locais, que empresários locais com dimensão e ambição, com projecto que reflicta a gestão do design como mais valia para o negócio, que dados de mercado que substanciem estas estratégias, que produtos, que serviços. É um desafio, mas temos dois anos e, no limite, podemos sempre convidar empresas do país vizinho!

Tuesday, March 4, 2008

Designers, cuidado com o que prometem.

Eu sou um advogado da causa do design, não somente como ferramenta táctica mas também estratégica. Já fui visto a pregar a importância dos gestores entenderem e usarem o design como ferramenta de crescimento quer na época de deflação quer de abundância. O “design thinking” está a ganhar visibilidade em mercados mais desenvolvidos e até as escolas de negócio começam a usar o design como elemento estrutural de formação executiva.

Quando as coisas correm bem, as empresas focam-se no crescimento, na criatividade e na inovação. Mas quando a vida está difícil, as empresas viram-se para a optimização, produtividade e controlo de processos. Este é o ciclo da economia e faz todo o sentido, o que não faz sentido é assumir que é impossível ter-se inovação quando a economia está em baixa. Principalmente porque existem diferentes tipos de inovação, e o design é uma óptima ferramenta para re-estruturar um portfolio e para conceber soluções de crescimento incremental.

Mas sou o primeiro a sugerir atenção ao uso do design como se de uma ferramenta milagrosa se tratasse. Vender a ideia de que o “design thinking” levado ao seu ideal implicaria que os gestores pensariam todos como designers é perigoso por dois motivos; assumimos que eles não pensam como designers só porque não são designers (e isso muitas vezes não é verdade), prometemos demasiado quanto ao resultado do design, colocando em risco a própria inovação e o design. Não queremos que o design e a inovação vá pelo caminho do planeamento estratégico, que cresceu desmesuradamente como solução para todos os males nos anos 70 e depois houve um “backlash” que dura até aos dias de hoje, com algumas empresas a suspeitarem muito do seu valor como gerador de resultados.

Eu sei que em Portugal ainda estamos longe de usar o design como ferramenta de crescimento, em muitas, muitas empresas ainda estamos naquilo que chamo a era do pré marketing. Mas para qualquer dos efeitos, se tivesse que aconselhar designers que já estão colocados em ambientes empresariais ou empresários enamorados pelo design e pelo “design thinking”, diria para não menosprezarem as outras áreas, desde as mais duras como a optimização, aos recursos humanos e estratégia comercial. Não tentem converter, sejam especialistas em equipa.

Aos gestores fica a grande questão; vão juntar-se aos que abandonam o crescimento enquanto as coisas não assentam, ou encontram novas maneiras de crescer através da inovação?

Jornal de Leiria, Caderno Economia Fevereiro 2008

Monday, January 7, 2008

O tamanho importa... e não devia importar.

Não, não vou falar disso!

Estou a fazer um projecto para um cliente, e depois de um esforço considerável em compactar o produto nos limites da funcionalidade e ergonomia, chegamos a um tamanho que nos assegura tudo o que pretendemos. Passamos para a discussão da embalagem e o cliente, conhecedor profundo do seu mercado, indica-nos que temos que desenhar uma embalagem cerca de 30% maior que o produto, enchendo a embalagem com “algo”. Isto porque o cliente tem por experiência própria que a embalagem na prateleira necessita de ter um determinado impacto face à concorrência, caso contrario o consumidor não entende que o produto custe o mesmo (ou mais...) que a concorrência.

Não é a primeira vez que o assunto do tamanho aparente vem como tópico para cima da mesa. Já em tempos tive um outro projecto onde se discutia a robustez aparente, o facto de que um produto não precisa de ser robusto, precisa de parece-lo. No inicio da minha carreira, num projecto de ATM’s, fomos confrontados com cofres que apresentavam uma espessura 50% inferior com atributos superiores aos outros, mas o cliente impediu a evolução porque as pessoas do meio associavam espessura à segurança, e pronto.

Como designer industrial focado no utilizador, entender as percepções de qualidade, robustez, performance, etc. é uma parte importante da minha actividade. Como designer industrial interessado em diferenciar o produto do meu cliente do da sua concorrência, tenho que investigar processos de o fazer de forma peremptória e de preferência assegurando propriedade intelectual ao meu cliente. Mas como designer industrial responsável pela sustentabilidade das soluções com as quais estou envolvido, depois de um exercício sério de “more is less”, de uso adequado de materiais, de desenho de um sistema o mais próximo possível do “carbono 0”, fazer uma embalagem grande e enche-la com “algo” perece-me, no mínimo, questionável. No entanto, estou consciente da experiência do meu cliente e da necessidade do seu produto concorrer na prateleira sem recorrer a explicações ou informações adicionais.

Como fazemos? Quem pode e deve educar as pessoas a aceitar que os recursos devem ser poupados, que uma embalagem grande e colorida, com imagens a cores e filtros que nunca mais se degradam não implica necessariamente um produto melhor. Se por um lado o consumidor não gosta de abrir uma embalagem vazia, com um produto arrumadinho lá no fundo debaixo de uma montanha de lixo, não consegue desligar-se dos seus hábitos e percepções, não tem mecanismos que o ensinem e recordem como consumir adequadamente, no momento da escolha. A escolha acertada, para todos os envolvidos, obriga a compromissos, e não é isenta de riscos. Estaremos todos conscientes disso?

Jornal de Leiria, Caderno Economia Janeiro 2008