Wednesday, September 26, 2007

Design do bonito e do feio

Estou certo que conhecem os Croc’s. Os Estados Unidos são prolíficos na criação de novos mitos do consumismo e este é o último case-study na berra. Para os que porventura não conhecem, tratam-se de uns sapatos (socas? sandálias?) em plástico (especial, cores vivas) com buracos, que agora se vê nos pés de todo o mundo. Reza a história que no ano de 2002, 3 amigos que faziam vela decidiram “desenhar” os sapatos perfeitos para a vela; empreendedores como são (...), juntaram algum dinheiro e fizeram os primeiros 1.000 sapatos que levaram a uma feira. A todos os que comentavam que os sapatos eram feios, eles retorquiam “mas experimente e vai ver”. A empresa cresceu (exportam para 40 países, este ano vão fabricar 20 milhões de pares) e fizeram a mais bem sucedida IPO do mercado do calçado.

Não vou questionar os buracos desta história, nem da mitologia que ela consubstancia. Vou sim pegar num comentário que alguém maliciosamente fez após a leitura de um artigo sobre o fenómeno, algo do tipo, “vêem como um produto sem design pode ser um sucesso de mercado!”. Esta pessoa fez este comentário para me picar, em vez de lhe responder à letra retorqui que provavelmente também não tinham plano de negócio e mesmo assim cresceu como negócio (é um facto, o financeiro só entrou mais tarde).
Aproveito para fazer o discurso em defesa do design, simplesmente porque acho que o comentário decerto ocorrerá a outros Na verdade, não existem produtos sem design, esse pode ser acidental, histórico, funcional, propositado, elaborado, copiado, etc. mas nunca inexistente. A busca de uma solução 100% funcional (dependendo de que parte funcional falamos, motora ou emocional...) por vezes gera produtos com um aspecto básico, directo, ou como se diria nos tempos modernos “no frills”. Comenta-se por vezes que é um design “honesto” e existem vários casos de sucesso similares. Há neste processo um sem número de decisões de design, que podem ter sido tomadas ou não por designers, com ou sem retribuição financeira. Eu prefiro qualquer tipo de design ao design descuidado (simplório, insultuoso), ou pretensioso (é assim porque eu gosto). Se por um lado os Croc’s iniciais eram um caso de sucesso sem um design refinado (hoje tem 22 modelos e design para todos os gostos), também ninguém me saberá dizer qual o resultado de um processo similar em tudo, mas com a atenção ao design de umas Birkenstork (também muito confortáveis por sinal). Alguns ainda poderão alvitrar que se tivesse sido necessário pagar a um designer, isso tornaria o produto mais caro. Deixem-me vos dizer que os custos do design neste processo todo provavelmente não ultrapassaria os 0,3% do investimento, sendo plausível que gerasse mais do que isso em vendas. De qualquer forma, este para mim é um bom caso de design, de negócio e de empreendedorismo.

Jornal de Leiria, Caderno Economia Agosto 2007

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