Wednesday, September 26, 2007

Fotos de momento


Isto de ter um telemóvel que permite fotografar no momento é interessante. No entanto, a ferramenta não faz o artista, e nem a disponibilidade e a qualidade da máquina nos salva de milhões de imagens sem interesse algum. Não deixa de ser interessante que a Internet está cheia de imagens, mas nunca encontramos aquela que procuramos, a que corresponde 100% ao que procuramos.

Chega de devaneios! Aqui estão algumas fotos que eu tenho tirado, coisas e loisas que se me cruzam pelo caminho. Valem o que valem!

Uma Zundapp!
CCCB pavement art

Ditados esquecidos...



Lá no meio alguém escreveu "Go vegetarian!"


A boa educação é uma coisa rara...
Eu também!

O ciclo da não decisão pelo design

Chegamos a Setembro e eu penso sempre que as coisas vão ser diferentes. A sério, para os outros meses há sempre uma justificação para não se tomarem decisões, e habituamo-nos a que as empresas a sério tomam as decisões para o ano seguinte em Setembro. Todos os anos penso que aquelas empresas com quem tenho trocado orçamentos e revisões, propostas compactas e sumários executivos durante o resto do ano, chegam a Setembro e decidem, decidem pela aposta no design. Afinal, parece que cada ano há mais justificações, parece-me que no panorama internacional o sucesso do design como ferramenta de negócio é inquestionável, já não necessitamos de citar sempre a Apple. Em Portugal até um agora eleito Presidente da Câmara convidou designers para discutir a cidade. Mas chego ao final de Setembro desapontado, novamente.

As empresas que inovam com o design, continuam a inovar; as outras continuam a julgar que se pode dar cabo da concorrência ou simplesmente sobreviver com ajustes ao produto e quota de mercado. O facto da Nintendo Wii, a mais fraca das plataformas de jogos com menos jogos, menos potência online, etc., ser a que mais se vende estando sempre em ruptura de stock, não serve de lição sobre o uso do design na definição de uma experiência impar. Talvez, mas é um caso distante de um sector que não tem nada a ver com Portugal. Mas então e o caso dos Croc’s, num sector como o do calçado onde supostamente temos activos a proteger? Temos a Geox, é um facto. Uma das empresas que inova com design, e continua a inovar.

Quando será que as empresas nacionais, em todos os sectores onde temos tradição e activos, reconhecem de uma vez por todas que, se estão no mercado e em concorrência, devem pelo menos apostar no design como uma das categorias onde podem ser os melhores. Talvez não possam competir no tamanho, nem na capacidade de investimento, mas podem aproveitar o facto de existir uma sobre produção de designers em Portugal e apostar no design. Não serve de nada etiquetas a identificar produto nacional, ou explicar às pessoas para prestarem atenção ao 560 nos códigos de barras, interessa conquistar a mente e o coração dos Portugueses, dos Espanhóis, de outros Europeus e Norte Americanos, no mesmo plano de acção, no mesmo campo de batalha, na prateleira lado a lado.

Estou farto deste ciclo da não decisão pelo design, deste eterno protelar. Se o Natal é quando um homem quer, pois que a decisão a favor do design seja todos os meses, de uma vez por todas.

Jornal de Leiria, Caderno Economia Setembro 2007

Design do bonito e do feio

Estou certo que conhecem os Croc’s. Os Estados Unidos são prolíficos na criação de novos mitos do consumismo e este é o último case-study na berra. Para os que porventura não conhecem, tratam-se de uns sapatos (socas? sandálias?) em plástico (especial, cores vivas) com buracos, que agora se vê nos pés de todo o mundo. Reza a história que no ano de 2002, 3 amigos que faziam vela decidiram “desenhar” os sapatos perfeitos para a vela; empreendedores como são (...), juntaram algum dinheiro e fizeram os primeiros 1.000 sapatos que levaram a uma feira. A todos os que comentavam que os sapatos eram feios, eles retorquiam “mas experimente e vai ver”. A empresa cresceu (exportam para 40 países, este ano vão fabricar 20 milhões de pares) e fizeram a mais bem sucedida IPO do mercado do calçado.

Não vou questionar os buracos desta história, nem da mitologia que ela consubstancia. Vou sim pegar num comentário que alguém maliciosamente fez após a leitura de um artigo sobre o fenómeno, algo do tipo, “vêem como um produto sem design pode ser um sucesso de mercado!”. Esta pessoa fez este comentário para me picar, em vez de lhe responder à letra retorqui que provavelmente também não tinham plano de negócio e mesmo assim cresceu como negócio (é um facto, o financeiro só entrou mais tarde).
Aproveito para fazer o discurso em defesa do design, simplesmente porque acho que o comentário decerto ocorrerá a outros Na verdade, não existem produtos sem design, esse pode ser acidental, histórico, funcional, propositado, elaborado, copiado, etc. mas nunca inexistente. A busca de uma solução 100% funcional (dependendo de que parte funcional falamos, motora ou emocional...) por vezes gera produtos com um aspecto básico, directo, ou como se diria nos tempos modernos “no frills”. Comenta-se por vezes que é um design “honesto” e existem vários casos de sucesso similares. Há neste processo um sem número de decisões de design, que podem ter sido tomadas ou não por designers, com ou sem retribuição financeira. Eu prefiro qualquer tipo de design ao design descuidado (simplório, insultuoso), ou pretensioso (é assim porque eu gosto). Se por um lado os Croc’s iniciais eram um caso de sucesso sem um design refinado (hoje tem 22 modelos e design para todos os gostos), também ninguém me saberá dizer qual o resultado de um processo similar em tudo, mas com a atenção ao design de umas Birkenstork (também muito confortáveis por sinal). Alguns ainda poderão alvitrar que se tivesse sido necessário pagar a um designer, isso tornaria o produto mais caro. Deixem-me vos dizer que os custos do design neste processo todo provavelmente não ultrapassaria os 0,3% do investimento, sendo plausível que gerasse mais do que isso em vendas. De qualquer forma, este para mim é um bom caso de design, de negócio e de empreendedorismo.

Jornal de Leiria, Caderno Economia Agosto 2007

O design do marketing

Fui convidado a participar numa formação para executivos que uma reputada universidade organiza amiúde, sobre marketing e inovação na distribuição e retalho. O convite era para um módulo sobre desenvolvimento de novos produtos, algo que entendo ser especialista. Cedo, e em conversa com o responsável, identificamos uma oportunidade para inovar. Desenhámos a realização de um primeiro módulo com teoria e casos, a separação do grupo de trabalho em quatro e a definição de um projecto de integração do saber acumulado nos diferentes temas no desenvolvimento de um novo produto ou serviço, que seria apresentado num segundo módulo no final da formação. Para ajudar a pensar e a comunicar, coloquei à disposição de cada um dos grupos um designer externo que dedicaria um tempo limitado a cada projecto. Depois de alguma ponderação por parte da universidade, avançamos e o projecto decorreu durante dois meses.

A experiência de relacionar designers com executivos foi interessante, arrisco a dizer que não são muitos os designers que circulam no perímetro deste local de ensino. Estava particularmente interessado em que o grupo usasse os designers como elementos da equipa logo desde o início, usufruindo da maneira particular de pensar e das ferramentas de comunicação dos designers. Isto sabendo de antemão que existiria uma tendência para pedir ajuda aos designers para fazer uns “bonecos” no último dia.

Independentemente das dificuldades inerentes a este tipo de experiências, o resultado penso que foi muito bom. Mesmo tendo em conta que num dos grupos o designer não fez nada porque o grupo só lhe pediu bonecos no último dia, noutro o designer a meio foi obrigado a zangar-se porque não o estavam a envolver adequadamente, noutro o designer fez 80% do trabalho e somente num dos casos houve trabalho de equipa, integração e inovação.

Não deixa de ser curioso que a tentativa de aplicar conhecimentos adquiridos num projecto centralizador, ou que o uso do design como ferramenta para estruturar e sistematizar o problema, sejam consideradas inovações. Na conversa final com os designers, satisfeitos mas críticos com o reconhecimento do valor do design nos meandros do marketing da gestão, relembrei-lhes que tinham que fazer uma aposta na formação dos executivos, pois seriam estes os seus futuros contratadores. Na conversa com os executivos aparentemente perceberam que o design e o “design thinking” serve para mais do que fazer bonecos. Espero que estes executivos e estes designers façam coisas boas e inovadoras com base nesta experiência.

Jornal de Leiria, Caderno Economia Julho 2007